quinta-feira, 25 de outubro de 2012


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REPRODUÇÃO ASSISTIDA
Drauzio – O que justifica a incidência aumentada das gestações gemelares nos casos de fertilização in-vitro?
Maria de Lourdes Brizot – A reprodução assistida provocou aumento grande de gestações gemelares ou múltiplas. O ideal nesses tratamentos – pelo menos, o que o especialista e a maioria dos casais desejam – é que tenha sucesso a gestação de um único bebê, de dois no máximo, porque assim a gravidez estará sujeita a menos complicações. No entanto, é difícil obter esse resultado implantando apenas um ou dois embriões. Na maioria das vezes, transferem-se três ou quatro para assegurar o sucesso do tratamento.
Drauzio – Na verdade, esses embriões são fertilizados fora do organismo materno e depois transferidos para o útero da mulher. Pelo que você está explicando, implantam-se três ou quatro embriões com o intuito de que pelo menos um deles sobreviva e leve a gravidez até o final.
Maria de Lourdes Brizot – Sabe-se que nem todos os embriões transferidos irão se desenvolver normalmente. Às vezes, transferem-se quatro e nenhum se torna viável; às vezes, os três que foram transferidos evoluem sem problemas e, ainda, pode acontecer que um deles se divida em dois.
Drauzio – Para haver controle desse processo, precisaria enxertar apenas um embrião.
Maria de Lourdes Brizot – Transferir um embrião apenas poderia aumentar as chances de controle, mas diminuiria as de conseguir uma gestação.
Drauzio – Como cabem três ou quatro fetos na barriga de uma mulher?
Maria de Lourdes Brizot – Cabem, porque o útero vai se adaptando até atingir certo limite de distensão. Por isso, quanto maior o número de bebês, mais precoce o nascimento. A idade gestacional de quadrigêmeos é, em média, de 31 semanas; a de trigêmeos, aproximadamente 34 semanas e os gêmeos nascem por volta da 36ª semana, ou seja, quando a mãe está entrando no nono mês de gravidez. Esse adiantamento do parto explica algumas complicações que advêm de gestações múltiplas.
TIPO DE PARTO
Drauzio – Quais são as complicações que podem ocorrer na hora do parto?
Maria de Lourdes Brizot – A maioria dos partos de gestações múltiplas é por via alta, isto é, por cesariana. No caso de gêmeos, o parto normal é possível dependendo da posição em que estejam os bebês. O ideal é que os dois estejam de cabeça para baixo, o que acontece em 40% dos casos. Nos outros 40%, o número 1 está de cabeça para baixo e o número 2, numa posição diferente. Isso dificulta a realização do parto normal, mas mesmo assim ele pode ser feito, porque existem algumas manobras que facilitam o nascimento do segundo bebê. Quando nenhum dos dois está com a cabeça para baixo, a cesária é o procedimento indicado. Em se tratando de trigêmeos ou quadrigêmeos, o indicado é sempre o parto por via alta.
Drauzio – No caso de gêmeos, qual tem o parto mais difícil?
Maria de Lourdes Brizot – Na maioria das vezes, a complicação é maior no segundo gemelar. Às vezes, ele não está em posição favorável ou as contrações não são suficientes para expulsá-lo.
RESPEITANDO AS DIFERENÇAS
Drauzio – Quando os gêmeos univitelinos começam a manifestar diferença de personalidades?
Maria de Lourdes Brizot – Já no intraútero, os gêmeos apresentam diferença de resposta ao meio ambiente ou a qualquer tipo de agressão, tanto que um problema pode manifestar-se apenas num deles. Diria também que nos exames de ultrassom é possível observar, por exemplo, que um é mais agitado e o outro, mais calmo.
Essas diferenças acentuam-se no pós-natal. É sempre bom lembrar que mesmo os gêmeos idênticos são pessoas diferentes, com personalidades diferentes apesar de geneticamente iguais. Daí, a importância de os pais individualizarem a forma de tratar, vestir e educar essas crianças.
Drauzio – É interessante notar que, muitas vezes, gêmeos idênticos vão perdendo a semelhança com a passagem dos anos.
Maria de Lourdes Brizot – Isso acontece porque cada um desenvolveu suas próprias características. Há, porém, outros que se parecem muito ao longo da vida, e até colaboram para perpetuar essa semelhança. Há dois gêmeos americanos, um é médico e o outro é físico, que cuidam de uma fundação nos Estados Unidos e fazem questão de manter a semelhança física. Na verdade, entre eles existe algo que vai além da convivência e, embora o lado genético tenha influência muito forte nessa ligação, eles se esforçam por mantê-la intensa a ponto de o físico, por exemplo, participar dos congressos médicos sobre gêmeos. Obviamente, há gêmeos que querem diferenciar-se e essa é a conduta mais habitual.
AMAMENTAÇÃO 
Drauzio – A tarefa de amamentar uma criança já não é muito fácil. Como as mães dão conta de amamentar dois ou mais bebês que podem chorar de fome ao mesmo tempo?
Maria de Lourdes M. L. Brizot – A mãe pode amamentar um bebê enquanto o outro dorme, ou pode amamentar os dois concomitantemente, colocando um em cada mama. Se desse modo consegue diminuir as horas que passa dando de mamar e estabelecer um horário para a amamentação, por outro tem de repartir a atenção entre as duas crianças enquanto as alimenta.
Drauzio – Quando a mãe tem três ou quatro filhos gêmeos, amamentar torna-se uma tarefa difícil de cumprir?
Maria de Lourdes Brizot –A tendência é que as mães de múltiplos, com três ou quatro filhos amamentem menos do que as que tiveram gestações únicas. Isso acontece não porque o leite seja necessariamente insuficiente, mas porque o trabalho é muito maior e requer ajuda de profissionais.

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